quinta-feira, 28 de julho de 2011

MANUTENÇÃO VITAL.

Você já fez uma reforma na sua casa? 
Quem já fez sabe o que isso
significa.

Reformar a casa é sempre um transtorno. 
Tudo fica fora do lugar.
O sofá cede espaço a um monte de areia. 
Há cimento por toda a parte
e o cheiro de tinta se espalha no ar. 
De pouco adianta o
planejamento e os prazos. 
Sempre surgem vazamentos inesperados,
serviços mal-feitos e outros imprevistos 
que aumentam o orçamento e
o tempo para terminar a obra.

Para evitar aborrecimentos, 
há quem prefira passar a vida sem
qualquer mudança, optando por se 
acomodar as falhas e imperfeições.
Mas quem se aventura a enfrentar o 
desafio recebe, como recompensa,
mais conforto e muito prazer.

Nossa vida é como nossa casa. 
Um lar que podemos manter como está,
ou então, reformar, aumentar, redecorar, 
pôr abaixo se for preciso,
para reconstruir de um jeito melhor.

Colocar a vida em obras é também 
um grande transtorno, com um
agravamento: você não pode 
abandoná-la temporariamente,
hospedando-se em outro lugar. 
Tem que aprender a conviver com a
areia, o cimento, dividir o seu 
espaço com o pedreiro, o pintor, a
desviar de tijolos, dormir com cheiro 
de tinta, e trabalhar
normalmente, ao som do martelo e da serra. 
Como se não bastasse,
vai chegar a um ponto em que, 
ao contemplar tudo isso, você vai ter
a nítida sensação de que a desordem 
não terá fim, e amargará o dia
em que decidiu abandonar a comodidade 
do óbvio para buscar novos
horizontes, usando a vocação e os 
talentos que Deus lhe deu. Mas,
aos poucos, tudo vai tomando forma. 
O que foi projeto, ganha
contornos de lar resplandecente, novo. 
Angústias e aborrecimentos
ficam no passado e a realidade nova 
é digna de se admirar. Por
maior que seja a dificuldade de se 
perseguir um sonho, maior ainda
é a alegria de vê-lo se concretizar.

PROCURA-SE UM AMIGO...

Não precisa ser homem, basta ser humano, basta ter sentimentos, basta ter coração. Precisa saber falar e calar, sobretudo saber ouvir. Tem que gostar de poesia, de madrugada, de pássaros, de sol, da lua, do canto dos ventos e das canções da brisa. Deve ter amor, um grande amor por alguém, ou então sentir a falta de não ter esse amor. Deve amar o próximo e respeitar a dor que os passantes levam consigo. Deve guardar segredo sem se sacrificar. Não é preciso que seja de primeira mão, nem é imprescindível que seja de segunda mão. Pode já ter sido enganado, pois todos os amigos são enganados. Não é preciso que seja puro nem que seja de todo impuro, mas não deve ser vulgar. Deve ter um ideal e medo de perdê-lo e no caso de assim não ser, deve sentir o grande vácuo que isso deixa. Tem que ter ressonâncias humanas, seu principal objetivo deve ser o de amigo. Deve sentir pena das pessoas tristes e compreender o imenso vazio dos solitários. Deve gostar de crianças e lastimar as que não puderam nascer. Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos, que se comova quando chamado de amigo. Que saiba conversar de coisas simples de orvalhos, de grandes chuvas e das recordações da infância. Precisa-se de um amigo para não se enlouquecer, para contar o que se viu de belo e triste durante o dia, dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade. Deve gostar de ruas desertas, de poças de água e de caminhos molhados, de beira de estrada, de mato depois da chuva, de se deitar no capim. Precisa-se de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já se tem um amigo. Precisa-se de um amigo para se parar de chorar, para não se viver debruçado no passado em busca de memórias perdidas. Que nos bata nos ombros sorrindo ou chorando, mas que nos chame de amigo, para ter-se a consciência de que ainda se vive.